"A imagem é um dos 26 painéis que uma vez adornaram as células do mosteiro carthusiano em Champmol perto de Dijon. Duas pinturas da série sobreviveram, seus temas sendo idênticos: um monge carthusiano está orando abaixo da cruz de Cristo. São João Evangelista está de pé atrás dele, cantando suas mãos em tristeza, sua cabeça caindo para um lado da mesma maneira que a cabeça de Cristo. Do outro lado da cruz, à direita de Cristo, as santas mulheres estão apoiando a Virgem desmaio. A imagem não é uma narrativa de um evento bíblico (a presença do monge na imagem seria um anacronismo óbvio). Pretende-se evocar os sofrimentos e a morte de Cristo tanto para a pessoa representada como para o espectador. De fato, o monge é a figura mais emocional da composição; há alguma absolvição e resignação na dor dos outros. Representar uma pessoa humana, sem o intermediário de um santo padroeiro, na mesma escala que os santos e tão perto de Deus, o Redentor, era uma inovação ousada. A pintura é um exemplo característico de um quadro devocional quase desprovido de constrangimentos iconográficos, o seu objetivo é encorajar as orações, meditações e piedade do cristão, e melhorar a sua identificação com os sofrimentos de Cristo. Os prisioneiros do mosteiro poderiam identificar-se com o monge na imagem, assim como o monumental Calvário por Claus Sluter no meio do claustro pode ter fornecido-lhes uma experiência profunda todos os dias. A cena acontece em um estágio estreito na frente de um fundo de ouro modelado. Os grupos de ambos os lados da cruz estão ligados por ricas draperies para formar massas equilibradas. As dobras generosas das draperies são dispostas em curvas rítmicas que obscurecem a estrutura anatômica das figuras; mesmo a postura do monge não é aparente. O pequeno monte de terra em que o pé da cruz é inserido é suavemente moldado também, quase como se fosse feito de um material têxtil. Este uso do espaço, definido dentro de limites flexíveis, que parecem ter sido modelados e dobrados pelo artista, é uma característica típica do estilo gótico internacional. Nem as figuras ficam na frente de um fundo natural; parece mais tecido esticado para formar uma pano de fundo. Sua conexão com a composição é alcançada pela relevância simbólica de seu padrão, uma árvore que está enraizada no solo da colina do Calvário e também representa as árvores da vida e do conhecimento. Este ornamento estilizado preenche as superfícies vazias uniformemente. Todo o quadro é fechado por arcos largos com linhas vigorosas que se misturam entre si: os contornos das figuras, as dobras das vestes e o sangue que flui do corpo de Cristo. As linhas são flexíveis e evitam quebras e confrontos (como pode ser observado, por exemplo, no ornamento folhado em torno do braço do monge)."